“O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida,” já dizia a canção de Milton Nascimento lindamente interpretada por Maria Rita.
Ser mãe é um pouco a plataforma dessa estação. Meu filho que está prestes a completar 12 anos e a despedida da fase da infância. A chegada da adolescência com os seus hormônios, inseguranças e descobertas.
Eu que sou mãe atípica conto essa história de uma forma um pouco diferente. Com o autismo veio também o atraso global no desenvolvimento, que faz com que a então criança não acompanhe os chamados marcos do desenvolvimento aplicados à faixa etária.
Com 12 anos incompletos o meu filho tem comportamento muito mais infantil do que boa parte dos pré-adolescentes nessa idade. Mas mesmo assim eu me preparo para a despedida da fase da infância.
Isso porque os hormônios pedem passagem. O crescimento da estatura também.
Não há mais como tratar como criança quem aos olhos de todos não mais parece uma. E dói. A criança com autismo permite uma certa maleabilidade mais fácil, enquanto um adolescente e adulto com autismo nem sempre possuem a mesma aceitação social.
Pela inadequação de comportamentos, pela exigência de uma postura que corresponda à idade. A resistência, a força física, a força dos hormônios.
E como adolescentes e adultos com autismo são invisibilizados. A repercussão que apresenta pessoas adultas com TEA expõe indivíduos com poucas habilidades sociais e gênios em áreas do conhecimento como matemática, física. O que contribui para o estereótipo e dificulta ainda mais a compreensão de que pessoas com autismo crescem. E precisam estar inseridas com condições adequadas para essa inclusão.
Tento me preparar para essa chegada. Me despeço da fase da infância com muitos medos e inseguranças. Ainda não sei o que virá. “E a plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar”.