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A política não é preto no branco e a dificuldade da militância em lidar com o contraditório

 

Essa semana ganhou repercussão os trechos de discursos do presidente Lula. De política internacional à falas sobre pessoas com deficiência, o chefe do Executivo Nacional se expressou de forma equivocada, provocando setores da política e profissionais que atuam na área da inclusão. 

Falas impensadas ou sem levar em consideração as consequências de expressões erradas e incoerentes podem até ser comuns. Mas não podem ser relativizadas, sobretudo se a pessoa que se expressa mal é o presidente de um país, cujo posicionamento pode reverberar nas relações diplomáticas com outros países. Se retratar é o mínimo. Tentar corrigir para evitar deslizes também. 

A militância acostumada a enxergar inimigos em quem faz crítica é que não consegue identificar que a política não é preto no branco. Os aliados devem ser os primeiros a fazer mea culpa, criticar quando necessário e evitar que os erros voltem a acontecer. Vivemos isso muito recentemente. Virou até piada, bastava uma posição contrária ao ex-presidente Bolsonaro e logo o crítico era incluído no rol de “comunistas”, inimigos do governo. Pecha semelhante dada pelos apoiadores de Lula. Basta questionar uma fala e o crítico vira “bolsonarista” ou “elitista”. 

A imprensa vive esse dilema. E todos sabem que imprensa séria é crítica ao poder, senão vira assessoria, chapa branca. O jornalismo brasileiro fez um trabalho investigativo reconhecido internacionalmente no governo anterior. Mas basta seguir na mesma linha com o atual mandatário da República que a militância não aceita. Aqui não estou fazendo comparação entre os dois governos, apenas analisando a posição de quem aplaude ou critica, a partir da posição que ocupa no espectro ideológico. 

A capa da Carta Capital desta sexta, 21 de abril, é genial nesse quesito. Traz na imagem a problemática das contradições nos discursos do presidente a partir da referência de uma foto de Jânio Quadros, em 1961, como bem lembrou o jornalista Carlos Santos no Twitter. 

O texto diz: Lula erra o tom sobre a Ucrânia, queima pontes e se enfraquece como possível mediador. 

E fiquei sabendo justamente através da posição de um militante petista, o sociólogo Emir Sader que critica a revista, tida como apoiadora do governo, e pede a censura prévia à toda publicação da Carta Capital.

A capa é uma ode à história política brasileira e à memória do fato jornalístico, em uma leitura de imagens e metáfora das posições. Jornalismo sem memória não existe. Militância sem memória e sem autocrítica também. 

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