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De Janja a Carlos Bolsonaro: quando as questões particulares invadem a esfera pública 

Essa semana a primeira-dama Janja respondeu a um perfil de notícias no Twitter sobre a polêmica taxação de compras internacionais. Rebateu a informação de que a cobrança seria para pessoa física e afirmou que o valor cobrado seria apenas para empresas. Logo, surgiu uma enxurrada de críticas sobre o posicionamento da esposa do presidente que falou pela comunicação institucional do Governo sem fazer parte dele. 

Também nos últimos dias ganhou destaque a informação de que Carlos Bolsonaro deixaria de administrar as contas do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Atuante e aconselhador do pai durante o mandato, Carlos também era criticado pela presença constante no Palácio do Planalto, mesmo tendo sido eleito para o cargo de vereador na cidade do Rio de Janeiro. 

Mas o que Janja e Carlos Bolsonaro, em posições tão antagônicas, podem ter em comum?! Ambos representam a confusão entre o que é vida particular dos presidentes e a esfera pública. Nenhum dos dois foram eleitos para cargos federais e não ocuparam ou ocupam cargos no primeiro escalão do Governo, embora tenham se comportado ou se comportem como tal. 

Janja é mulher do presidente Lula. Militante e atuante em causas sociais, ocupou papel relevante na eleição do presidente, sempre presente nas manifestações políticas. Aqui não vem ao caso desmerecer ou não o perfil da socióloga. Tão pouco recorrer ao clichê de que toda crítica à ela é recalque machista. Pura bobagem. O titulo de primeira-dama só existe no Brasil porque há tradições brasileiras, que, segundo a história, se assemelham aos Estados Unidos e França. Porem, o cargo não possui qualquer função formal prevista na Constituição Federal. Isso porque que não é possível dar uma função pública para alguém que não foi eleito ou nomeado, conforme determina a legislação. 

Esposa, filhos, netos, irmãos do presidente são apenas familiares. Nada tem a ver com função de Estado. Por isso muito se criticou a presença de Carlos Bolsonaro no Palácio do Planalto, à época, sempre acompanhando o seu pai e atualizando as redes sociais. Carlos era uma espécie de ministro das comunicações sem cargo. Porém, a presença do filho do presidente, sem ter sido nomeado ou eleito, também nunca coube na Constituição. A militância do ex-presidente considerava perseguição quem o criticava por ser um “vereador federal”. Nada diferente dos tempos atuais, só que com outro viés. 

Casos emblemáticos de quando as questões pessoais e familiares invadem o público. Dois pesos e duas medidas, de acordo com a preferência política de quem milita. 

Como diria o colunista Josias de Souza, “nada é mais machista do que a visão segundo a qual alguém adquire poder e significado por ser mulher de um presidente”. À parte a questão do machismo, diria a mesma coisa para filho, irmão ou neto do Chefe do Executivo. 

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