A tecnologia impõe desafios. Há muitos anos já se falava sobre a substituição da mão de obra humana por máquinas. Com a revolução industrial vivemos esse embate. Há algum tempo o assunto voltou à discussão semelhante com o uso crescente da Inteligência Artificial. As ferramentas de IA se popularizaram. Apesar do meu quase total desconhecimento sobre elas, é fato que a presença é cada vez mais forte em todos os âmbitos. Do poder judiciário ao jornalismo. A construção de um texto autoral vem sendo substituída por algoritmos que reúnem informações e estruturam o conteúdo.
Para o jornalista: quais as principais competências técnicas de um bom repórter? Definir pautas, apurar informação, escrever. Nenhuma IA será capaz de transformar a apuração da rua em uma matéria sensível, com olhar diferenciado sobre os personagens do cotidiano. Nenhuma ferramenta tecnológica substitui a criatividade, a sensibilidade. Não é a IA que vai transformar histórias que parecem simples em narrativas extraordinárias.
Para isso precisamos do olhar apurado do bom jornalista. Aquele com alma e garra de repórter, características que não devem se perder com o tempo, independente de quantos anos se está no ofício.
A IA não tem capacidade crítica, não questiona e nem traz à tona um detalhe que poderia passar despercebido em uma apuração jornalística desatenta. Aquele dado que fica nas entrelinhas e que só com muito feeling e experiência na reportagem se percebe. Aquela informação repassada pela fonte que pode não parecer o assunto principal da matéria mas que depende do olhar engajado e astuto de quem constrói a reportagem.
A tecnologia é uma aliada se fizermos bom uso dela. A capacidade criativa não pode ser substituída por textos clichês, formatados de maneira automática pelos algoritmos.
O que faz um jornalista com bom texto nunca vai ser a tecnologia. O bom jornalismo é resultado do olhar humano, de ampla leitura, da capacidade crítica e conhecimento de mundo. Sem isso ficaremos à mercê da mediocridade e seremos dominados, seja por quem não quer ver o bom jornalismo, seja por quem quer manter amarras e nenhum compromisso com o coletivo.