Você acredita em sororidade? A sororidade, conceito disseminado por grupos feministas, acredita em uma rede de solidariedade entre mulheres, a partir da defesa de que não devemos competir, nem rivalizar. O conceito se baseia no sentido de que a disputa entre mulheres é criada por homens, pois naturalmente há uma rede de proteção do gênero. Eu não acredito nisso. Acredito que há competição em todos os níveis, que essa disputa ocorre entre mulheres, entre homens, porque nós somos complexos, diferentes e essas questões vão sempre existir na sociedade.
Sororidade talvez seja mais um termo usado nesse mundo de clichês pregado pelo discurso identitário. Tão clichê quanto os adjetivos superlativados de guerreiras, fortes, batalhadoras, usados em campanhas corporativas e mensagens disseminadas neste dia 08 de março.
Precisamos superar tantas desigualdades existentes. Equiparação salarial, maior ocupação de mulheres em cargos públicos. Conquistar direitos legítimos. E ir além dessas pregações românticas que parecem não compreender o mundo real para corrigir as falhas e buscar o equilíbrio que deve existir entre gêneros.
A sororidade pregada por grupos ligados a um lado ideológico já tem falhado muito. Porque ela não consegue incluir todas as mulheres. A sororidade vale a favor de quem pensa parecido comigo. Mas quantas mulheres com outra visão de mundo já foram colocadas à prova, jogadas ao cancelamento, com sanidade questionada, e sem nenhum tipo de manifestação de quem fala tanto nessa rede de solidariedade feminina?
Fala-se até que feminismo tem apenas um lado ideológico. Esquecem a faceta libertária do movimento, que não deve excluir mulheres, mesmo as que não se sentem inseridas no estereótipo montado pra quem pode ser militante da causa.
A melhor reflexão da data eu vi em um vídeo da psicanalista Ana Suy. Ela propõe a reflexão sobre os imperativos. “Paradoxalmente a gente ama um imperativo, o que acaba com a liberdade. A gente vai fácil demais da imposição sobre o uso da maquiagem, depilação, fazer as unhas, para a ideia (também imposta) de que não devemos sucumbir a nenhuma desses ideias que a sociedade nos coloca(…)”
Que neste dia 08 de março possamos pensar na sociedade real. Na vida como ela é. Com seus dilemas, ambivalências, buscando superar as desigualdades e as violências existentes a partir da experiência humana concreta, da vida real. Sem clichês identitários e sem clichês de mulher guerreira.