“Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos & molhados”, a frase de Millôr Fernandes, bastante exaltada pela defesa do jornalismo livre durante a ditadura sempre parece atual. Não que eu considere que o papel da imprensa deva ser de oposição, mas de apoio e situação a qualquer governo que se instale é que certamente não é, ou não deveria ser.
O dever máximo do jornalismo é fiscalizar o poder. Tarefa difícil para a imprensa e bastante incômoda para quem está ocupando funções políticas em uma gestão pública e é o alvo desse trabalho fiscalizatório.
Tem um texto maravilhoso de opinião publicado na Revista Piauí que diz o seguinte: “a imprensa tem deveres – deveria ter – com seus leitores e telespectadores. Seu contrato é com os consumidores de notícias. É esse o melhor antídoto contra a cordialidade, contra as alianças políticas, perpétuas ou de ocasião.”
E não se trata aqui de romantizar a profissão de jornalista ou a atuação jornalística. Há diversas interferências no processo. Há, sobretudo, a visão do profissional carregada de ideias, experiências e visões de mundo. É o conceito da chamada imparcialidade jornalística, tão difícil de ser alcançada.
Mas fazer jornalismo exige responsabilidade. Apuração correta, com dados levantados com rigor e cuidado. Com perguntas que devem ser feitas, mesmo desagradando ao poder.
A militância ou os “partidários tatuados”, como diria o professor Wilson Gomes, preferem xingar a imprensa. No início do primeiro mandato do governo Lula foi dado um apelido à imprensa nacional: PIG, Partido da Imprensa Golpista. Alcunha dada pelo jornalista já falecido Paulo Henrique Amorim, petista histórico.
Quando o governo do PT perdeu a eleição e Bolsonaro assumiu o poder, a imprensa ganhou um novo apelido, virou a imprensa comunista. Foi xingada, cerceada durante as entrevistas e até agredida nas ruas.
Mas com o retorno do PT ao poder já voltou a ser golpista. Principalmente quando revela assuntos questionáveis do governo, como a mais recente reunião do Ministério da Justiça com uma das líderes do Comando Vermelho. Investigação do Jornal O Globo.
Foi a mesma imprensa que descobriu o esquema de presentes do Governo Bolsonaro e o chamado Orçamento Secreto, reportagem brilhante do Estadão.
Aclamada, à época, pelos militantes contrários a Bolsonaro, voltou a ser criticada pelos militantes do atual governo.
O fato é que quando os dois extremos se voltam contra a imprensa e o seu papel elementar de fiscalizar o poder, só há uma certeza: ela está cumprindo o seu papel.