A discussão que envolve o Projeto de Lei 2630 tem sido polarizada pelos atuais grupos políticos antagônicos no país. O que empobrece o debate no vazio das polêmicas das militâncias, que estão mais preocupadas com frases de efeito e defesas do seus políticos de estimação do que propriamente com a transparência na internet.
Mas uma questão que merece ser analisada é a própria característica do algoritmo dessas redes. Você já percebeu que determinados conteúdos aparecem mais pra você ou aparecem menos, de acordo com a sua frequência, interesse dos temas, horários e visibilidade na internet?
É verdade que muito pouco se sabe sobre quais os reais critérios do algoritmo utilizado pelas chamadas big techs para a entrega das postagens. Há profissionais especialistas em tráfego ou marketing digital que detalham como alcançar muita gente e quais ferramentas utilizar para tornar conteúdos mais populares e de maior alcance, mas não há um critério fechado.
Sendo assim, são essas grandes empresas que detém o controle sobre o conteúdo, afetando de sobremaneira as opiniões e o julgamento do público, limitando o acesso aos posicionamentos contrários e evitando a pluralidade da informação, que deveria ser a tônica de uma sociedade que vive conectada.
Já se discutiu muito como esses algoritmos foram determinantes para campanhas presidenciais e como as pessoas têm acesso às fake news que circulam livremente em grupos de WhatsApp e outros aplicativos de mensagens. No período de pandemia sobrou desinformação. Durante as eleições mais recentes também. O que resulta em pessoas que parecem viver uma realidade paralela, de tanto que consomem conteúdos completamente falsos, que eu costumo chamar de notícias fraudadas. Aliás, nada mais óbvio, fake news são fraudes, não apenas mentiras simples.
Agora, com a tramitação do PL, as big techs iniciaram uma verdadeira campanha contrária ao projeto. E estão usando com toda força o algoritmo, comandado por elas, para influenciar a opinião popular e deturpar a ideia de que a lei vai limitar a liberdade de expressão.
Mesmo depois dos ataques às escolas terem sido tramados em plataformas do Telegram ou comunidades do Twitter, que dizem não poder assumir responsabilidades sobre o controle e regulação dos conteúdos.
Os algoritmos podem controlar o que vemos, mas nós não podemos pedir a responsabilização de grandes empresas da internet que hospedam conteúdos de violência, apologia a crimes e mentiras?
A democracia precisa de respeito e autonomia, mas a liberdade de expressão, pressupõe, sobretudo, grandes responsabilidades.