Essa semana um caso de um paciente nos Estados Unidos que se submeteu a um tratamento de um médico brasileiro e a partir daí teria tido a remissão do câncer chamou a atenção e rendeu muitos cliques na matéria da CNN Brasil. A técnica logo foi questionada por pesquisadores e diversas entidades que dizem que o método não tem embasamento científico.
Aqui nem vou levar em consideração os aspectos técnicos e éticos desse tipo de procedimento, mas a possibilidade de se retratar e publicar o outro lado da história, a partir da interpretação de especialistas na área de medicina e bioética.
Em meio às polêmicas sobre fake news e conteúdos que desinformam, a reportagem da CNN foi acusada de propagar informação falsa. É verdade que até a imprensa profissional se rende às notícias que chamam a atenção e rendem cliques. A busca por audiência e a ansiedade em divulgar algo inovador e “vitorioso” para a medicina podem ser tentadores até para quem sabe que informação desse tipo merece ter um critério e uma análise aprofundada antes de ser publicada. Sobretudo em se tratando de uma doença como o câncer, que registra mais de 700 mil casos a cada triênio só no Brasil.
Mas a diferença é que apenas a imprensa profissional é capaz de fazer uma nova reportagem com o outro lado da história. Uma espécie de retratação com a contestação feita por especialistas. E mesmo assim ainda ouvir o médico autor do tratamento novamente que insiste em dizer que tem respaldo científico e legal nos Estados Unidos.
Questões que envolvem saúde pública e doenças graves como o câncer são sempre delicadas. Reportagens com dados sobre cura milagrosa e tratamentos inovadores são atraentes demais para a imprensa, até para quem sabe que o jornalismo só existe com checagem e responsabilidade sobre o que se publica.
É dever da imprensa admitir o erro, ouvir a outra versão e evitar que a pressa ou a busca desenfreada por audiência descredibilize o jornalismo praticado pela emissora.
E uma empresa jornalística sem credibilidade não tem a sua principal matéria-prima em meio à tanta concorrência e a rotina cada vez mais inglória dos jornalistas tentando se diferenciar em um período de redes sociais e fake news.