Tentar matricular o filho em uma academia e receber a informação de que não há vaga para ele. Antes, ser solenemente ignorada por quase dois meses antes da negativa em definitivo. Esse foi mais um dia de uma mãe de criança com autismo em busca de um espaço adequado para o filho.
Mas quando chega o mês de abril, mês oficial de conscientização sobre o TEA, os estabelecimentos comerciais e de serviços adoram usar aquele quebra-cabeça colorido, o símbolo do autismo. Falar sobre inclusão de pessoas com deficiência virou estratégia de marketing. Soa bonito. É humanizado, bacana, descolado. Agora aprenderam também sobre neurodiversidade, embora pouca gente entenda o significado e a representação na prática dessa palavra.
Uma campanha lançada por mães de crianças com autismo tratou sobre a falta de empatia e respeito. A discussão trazia a situação de exclusão e perguntava: e se fosse seu filho?
A minha dor é diferente. Só uma mãe atípica entende outra. A rede de apoio não é bem costurada se não contar com mulheres que vivenciam essa batalha. Que entendem porque sentem o quanto dói. E dói muito quando seu filho é discriminado.
Quem vai nos ajudar a reivindicar a aplicação da Lei Brasileira de Inclusão? “Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistiva”.
Quando meu filho tinha 6 anos ele foi matriculado na natação. Depois de aprender a nadar passou a ser mais resistente às ordens da instrutora. E ela resolveu conduzir as aulas como se ele não existisse. Chamava todas as demais crianças e pulava o nome do meu.
Muita gente dirige aos nossos filhos olhares de compaixão, de pena, de dó. Seria bem melhor que demonstrassem empatia. Porque empatia é se imaginar no lugar do outro. Mas, e se fosse seu filho?
“Quando a insensatez humana continua a nos ameaçar com a terra arrasada”, diria Millôr Fernandes. É bonito, está na moda falar de inclusão. Mas não há vagas.