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Será que um dia poderemos elogiar uma criação sem problematizar? 


A peça da Volkswagen trouxe de forma genial referências dos anos 70. Uma homenagem aos carros da marca que fizeram sucesso ao longo de sete décadas com uma trilha sonora comandada por Elis Regina e Maria Rita.  Elis, ícone da música brasileira falecida em 1982, surge no comercial através de recurso de Inteligência Artificial que pode recriar o rosto da cantora que faz dueto ao lado da filha. 

O comercial é genial. Primeiro porque traz a lembrança de uma geração que fez história nas artes e na cultura. Homenageia ainda Belchior, que aparece em uma camiseta com estampa minimalista e é o autor da canção que embala o comercial, Como Nossos Pais. 

Não demorou para surgirem as primeiras críticas. A preocupação com o avanço da IA já vem pautando o debate há algum tempo. O que é possível fazer através de recursos de deepfake, que permite que rostos possam se movimentar em vídeos com expressões bem reais. 

Outros foram resgatar possíveis críticas de Elis ao capitalismo e questões éticas que envolvem a utilização da imagem da cantora falecida que foi crítica da ditadura militar que teria sido apoiada pela marca na época. 

Mas, para mim, a tecnologia é apenas pano de fundo de uma homenagem belíssima e de uma ode à criatividade. Sobretudo em uma época de referências cada vez mais superficiais, de ídolos questionáveis e da pouca memória da geração mais jovem, onde boa parte sequer conhece a trajetória de quem ajudou a construir a música e a cultura brasileiras. 

Será que podemos simplesmente perceber quando a publicidade é genial e comovente sem problematizar? Prefiro reverenciar a criatividade de quem idealizou a homenagem, principalmente em meio à tanta mediocridade que vem fazendo sucesso atualmente. 

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